A vaias democráticas das arquibancadas, dona Dilma
Leandro Quesada
Não queria estar na pele da presidente Dilma. Não mesmo! A anfitriã da festa tomou uma sonora vaia de causar constrangimento até naqueles que a vaiaram. O semblante dela, sem graça e sem saber onde enfiar a cara, ganhou as manchetes dos principais jornais do mundo.
Ela é a chefe de Estado, excelentíssima presidente da República federativa do Brasil, cargo mais importante da nação, mas não está imune ao comportamento irado do povo. Ao contrário, os ouvidos estão bem preparados para as reclamações constantes.
Dilma, que lutou contra a ditadura, época em que as pessoas aplaudiam presidentes-generais por obrigação, sabe que agora é diferente. Democracia, liberdade de expressão, direito de reclamar e se posicionar, de contestar sem ser levado aos porões ou ao pau de arara, são as manifestações de um povo que viveu anos duros do autoritarismo.
No país em que se vaia “até minuto de silêncio”, diria Nelson Rodrigues, seria óbvio tal postura em um evento nacional, em que todos os olhos estavam voltados. O futebol mais uma vez serviu aos aspectos políticos. Foi a chance das pessoas mostrarem ao mandatário do país que estão insatisfeitas com a onda de violência, o desemprego, o custo de vida caro, os meios de transportes deficientes, a falta de escolas, moradias e hospitais decentes.
A Presidente Dilma, torturada nos tempos de AI-5, deveria levar para o lado positivo. As vaias das arquibancadas do Mané são o termômetro perfeito das insatisfações das pessoas com os rumos incertos do nosso Brasil.
Ps.: Ao senhor Joseph Blatter, uma cutucada: aqui não é a Suíça, meu querido! Os suíços não sabem como a vida está difícil do lado de baixo do Equador. Hilário é ouvir do presidente da Fifa que o público deveria ter ‘Fair Play’. Vá passear no lago de Lucerna, Joseph!