A derrota santista para o Barcelona, em Yokohama, é um marco no futebol brasileiro.

O ''antes'' e o ''depois'' deste duelo contrastarão conceitos que devem mudar a forma de jogar dos times e da seleção brasileira. A propósito nem a seleção de Mano conseguiria hoje parar o super Barça.

O time espanhol dá um aula de entrosamento e comportamento tático, aliados ao talento e técnica dos atletas. Além disto, o Barcelona mostra garra e vontade de jogar. Entrar em campo para estes ''caras'' é um prazer acima do dever profissional.

Se os técnicos brasileiros não se ''coçarem'' e se reciclarem, a seleção sofrerá um forte golpe da Espanha na Copa de 2014. 

O Barcelona é a Holanda que deu certo. Os catalães aprenderam, no inicio dos anos setenta, com os holandeses Rinus Michels e Johan Cruijff, o conceito de ter a posse de bola na maior parte do tempo e de ocupar todos os espaços em campo. A laranja mecânica ensinou, fez história e mudou a forma de atuar. Quarenta anos depois, o Barça inspirado naquele carrossel holandês ganha o mundo.

Viva o futebol total do Barça!

O time de futebol do Barcelona é igual a um shinkansen, o trem de alta velocidade do Japão: incomparável, veloz, seguro, eficiente, pontual e moderno.

Antes da minha última noite de sono aqui no Japão, eu escrevo as impressões que tive da decisão do Mundial de clubes da Fifa.

O Barcelona, simplesmente, arrasou o Santos no Yokohama stadium. O começo fulminante com dois gols em 34 minutos destruiu qualquer chance de reação do time de Muricy Ramalho. No final da primeira etapa, o terceiro gol catalão enterrou de vez o sonho do tri. Ficaria pior com o quarto gol de Messi.

Messi O pequeno gigante argentino é extraordinário e genial. Figura humilde e tímida, mas com senso impressionante ao levar a bola nos pés. Lionel joga fácil assim como o ''mecatrônico'' time da Catalunha. 

Neymar Para o garoto de ouro da Vila ficou o aprendizado. A experiência dos próximos anos dará a ele a maturidade para entender algumas quedas, como esta sofrida em Yokohama. Messi levou quatro gols pela Argentina contra a Alemanha na Copa 2010 e nem por isso o mundo acabou.

Postura santista O Santos percebeu o que estava acontecendo bem cedo. Desconectado no sistema defensivo, sem criatividade e com o ataque sem a bola para penetrar no gol rival, o peixe foi uma presa fácil.

Rafael É pitoresco dizer que um goleiro foi um dos destaques em uma derrota por 4 a 0. Se não fosse Rafael, o Santos teria levado sete, oito ou mais.

Posse de bola O Barcelona é ''fominha'' mesmo. Na final, o time da Catalunha teve 71% de posse de bola contra 29% do Santos. 

Imbatível? Nem o Santos de Pelé foi imbatível. A questão é saber quando e como vão parar o Barça. Eu perguntei isso para Messi e o craque respondeu: ''Não sei como alguém vai parar o Barcelona. Nós temos o melhor time do mundo''.

Volta ao Japão O projeto Japão 2012 começa em fevereiro na disputa da Libertadores. Se vencer o torneio sulamericano terá carimbado o passaporte para o Mundial de clubes no ano que vem. O Barça precisará levantar a Champions League para retornar também.

Espanha Os adversários da Espanha que se cuidem. A base é o Barcelona, campeão do mundo de clubes. Na Copa de 2014, a seleção espanhola é a grande favorita ao bi no Brasil.

Shinkansen O Barcelona passou por Yokohama, neste 18 de dezembro de 2011, como se fosse o Shinkansen (o trem bala japonês), na velocidade de 350 km/hora.

Esqueça tudo o que foi falado, analisado, comentado, escondido, prometido e lembrado ou esquecido por jogadores, técnicos, jornalistas e torcedores sobre a final do Mundial de clubes aqui no Japão.

Quando a bola rolar a partir das 8h30 da manhã deste domingo (19h30 no Japão), as teorias, conversas, papos, projeções e coisa do tipo darão espaço para a prática.

Assim valerá o esforço de cada jogador, a qualidade individual, o conjunto, a perspicácia do treinador, o reflexo do goleiro, o drible do craque, os chutes certos e errados…

O Barcelona tem o melhor time do mundo, certo? Certo. O Barça era favorito contra o Inter de Porto Alegre em 2006 e deu colorado. O Liverpool também era dito como mais poderoso na final de 2005 contra o São Paulo e quem levou foi o tricolor. Agora é a vez do Santos quebrar a escrita mais uma vez diante dos europeus.

A hora da verdade para Santos e Barcelona chegou…

Pelo menos na noite desta sexta aqui no Japão, os jogadores do Barcelona estão livres da obrigação de se apresentarem ao hotel, onde o time está hospedado.

Algo inusitado para a realidade do futebol brasileiro que discute de forma tímida o fim das longas concentrações.

Na véspera do duelo com o Santos, no entanto, todos estarão juntos no mesmo ambiente.

O conceito catalão tem dado resultado por causa das atuações da equipe e os títulos conquistados. Um time perdedor não resistiria ao padrão adotado. No rival Real Madrid, José Mourinho não se curvou ao pedido dos atletas para abolir a concentração.

No Santos, o técnico Muricy Ramalho desconsiderou a possibilidade de liberar os atletas do convívio em grupo.

De olho no mercado da China, o Corinthians negocia a fundação da filial do Timão no país mais populoso do mundo.

O presidente do clube (licenciado do cargo), Andrés Sanchez, confirmou as negociações: ''Estamos interessados naquele mercado e negociamos a criação do Corinthians chinês. Além disso, um jogador chinês virá para o time no ano que vem''.

Os detalhes do acerto são guardados pelo clube para o ''negócio da China'' dar certo. Ao entrar em terras chinesas, os produtos do Timão serão comercializados com facilidades, por exemplo, na capital Pequim. A presença de um atleta da China no elenco corinthiano é uma ação de marketing para atrair a mídia.

O intercâmbio é excelente para os dois lados. Os chineses começaram o processo de investimentos pesados no futebol para as melhorias de estádios, infra-estrutura dos clubes e contratação de jogadores. A meta é desbancar a J-League (primeira divisão) do Japão e criar a liga mais importante e interessante do Oriente.

O mercado asiático tem sido atraente para os clubes da Europa, principalmente. O Barcelona e Real Madrid exploram bastante o interesse dos torcedores. Os times ingleses do Manchester City, Liverpool e Arsenal também. O Bayern Munique é outro com esta filosofia. Os europeus acertam amistosos na China, Japão, Coréia do Sul e Malásia.

Antes do jogo Barcelona e Al Saad, no Yokohama stadium, os torcedores japoneses compraram camisas, bonés, bolas e outros itens com a marca do Barça. O clube catalão ganha mais dinheiro e aumenta o número de simpatizantes na terra do Sol nascente.

Já o futebol brasileiro ainda ''engatinha'' no quesito exploração de imagem e marca fora do país. Em uma comparação rápida, os torcedores japoneses procuraram mais os produtos do Barcelona do que os do Santos neste últimos dias no Japão.

Ao descer para a zona de entrevistas do Toyota stadium, após Santos 3 x 1 Kashiwa Reysol, eu cruzei com dois homens que vestiam roupas do Barcelona.

Eles carregavam câmera e tripé, sinal de que filmaram cenas do jogo para o treinador Guardiola. Nenhum integrante conhecido da comissão técnica da equipe catalã foi visto no estádio, me confirmou um jornalista espanhol.

As imagens devem apresentar situações específicas que as Tvs não mostram. As imagens do campo todo, em momentos distintos, para analisar as formações táticas ao longo da partida, interessam bastante ao adversário do peixe.

Guardiola já sabe que Neymar é um craque que arrebenta com qualquer conceito tático, que Ganso dá o toque de classe ao meio-campo e Borges é um perigoso atacante. Sabe também que o sistema de marcação do Santos sobrecarrega os zagueiros e que na lateral esquerda o time santista é deficiente na marcação e no ataque.

Ao contrário de Guardiola, que não foi ao estádio acompanhar o jogo do Santos, Muricy Ramalho agendou na noite desta quinta aqui em Yokohama uma visita ao Yokohama stadium para ver e analisar Barcelona vs. Al Saad.