Felipão não é o problema
Leandro Quesada
A minha experiência como repórter que acompanhou a preparação da seleção nas últimas cinco Copas do Mundo, me leva a analisar de forma diferente o atual estágio do time de Felipão. Não quero mas sou levado a nadar contra a maré. A frieza é necessária neste momento de cólera coletiva da opinião pública, de uma maioria ávida por futebol de primeira qualidade.
Considero que o Brasil não tem apresentado o futebol que o consagrou em cinco mundiais de seleções.
Felipão e os jogadores convocados por ele, no entanto, são vítimas de um calendário estúpido que não ajuda em nada a formação de uma seleção competitiva e ainda atrapalha os clubes que cedem os atletas.
O problema não é Felipão. Outro no lugar dele estaria sofrendo na pele a falta de bom senso na organização do time nacional.
Montar uma equipe competitiva esbarra no tempo curto de treinos. É absurdo receber os jogadores na segunda-feira, treiná-los um dia e colocá-los em campo no seguinte. O ''catadão'' não dá certo. Interessante é que quase todos têm complacência com o treinador de clube, que demora até meses para formatar um esquema bem preparado e treinado. Como exigir o mesmo dos jogadores e da comissão técnica da seleção brasileira, que mal têm tempo de cumprimentar uns aos outros?
A ausência nas eliminatórias da Copa é um tiro na competitividade da seleção brasileira. Os amistosos não criam o ambiente de responsabilidade para formar uma equipe vitoriosa.
Sem voltar muito no tempo, lembro aqui que, Zagallo, Parreira, Luxemburgo, Leão, Felipão, Dunga e Mano passaram pelas mesmas análises e críticas. Todos, sem exceção, foram em determinados momentos achincalhados: Zagallo era chamado de velho, Parreira acusado de medroso, Luxa qualificado como mascarado e prepotente, Leão visto como autoritário e centralizador, Felipão tachado de retranqueiro, Dunga avaliado como novato e inexperiente e Mano considerado vislumbrado e mal preparado para a função.
Técnico de seleção nunca teve vida fácil no pais do futebol. Mestre Telê Santana que o diga. Lazaroni, então! Flavio Costa, João Saldanha, Osvaldo Brandão, Claudio Coutinho, Falcão… Até vitoriosos como Feola e Aimoré Moreira não escaparam da ira de torcedores, críticos ferozes e invejosos de plantão.
Felipão vai tirar de letra a pressão mas pela experiência que adquiriu na seleção, ele deveria ter a tranqüilidade e a sabedoria para evitar confrontos desnecessários, principalmente, com a imprensa.