O fim da era Havelange
Leandro Quesada
O reinado Havelange acabou com a renúncia de Ricardo Teixeira. O dia 12 de março de 2012 é histórico para o esporte nacional. Teixeira deixa a CBF e leva com ele, quase sessenta anos de poder de Jean-Marie Faustin Goedefroid de Havelange (ex-presidente da CBD e da Fifa).
Na metade dos anos 80, o então poderoso presidente da Fifa, preparou o terreno para que o genro assumisse o comando da CBF. Em 89, Teixeira foi indicado para o comando da Confederação brasileira de futebol.
Desta forma, Havelange garantia mais algumas décadas de domínio do futebol nacional. O velho João, no entanto, não imaginava que o discípulo conquistaria o poder além do esporte.
Teixeira aprendeu tudo com Havelange, inclusive como renunciar em momentos delicados, com o peso nas costas de acusações de corrupção. Havelange deixou o COI (comitê olímpico internacional) em dezembro de 2011, antes de passar pelo vexame da expulsão da entidade. Teixeira também saiu antes da CBF, para evitar a possível intervenção do Governo.
Por longos 23 anos, Teixeira mandou e desmandou no futebol brasileiro. Teixeira ficou maior que o tutor e sogro. Politicamente, criou a base para se manter no cobiçado cargo. Falava com governadores e prefeitos como se tivesse o mesmo status. Com os presidentes da República era assim também. Ele usou a seleção brasileira para alavancar os interesses pessoais. A presença dos pentacampeões em jogos nos Estados era parte do plano de sustentação.
Ricardo Teixeira gerenciou o time de futebol mais popular e famoso do mundo. Fez da seleção um grande negócio, com patrocínios milionários. Ao mesmo tempo abandonou os times brasileiros. Para a seleção tudo, para os clubes, a indiferença.
''Em políticos não se deve acreditar'', diria meu avô. Ricardo Teixeira confiou na bancada da bola que o sustentou e, depois, achou que não precisava mais dela. Se deu mal. Nem os deputados que o apoiavam moveram alguma ação para blindá-lo da queda agora.
Dilma Roussef ao indicar Aldo Rebelo para o ministério do Esporte desafiou Teixeira. Aldo foi um dos mentores da CPI CBF-Nike, que investigou os ''podres'' do futebol. Dez anos depois, na pele de Ministro, Aldo ganhou força para contestar outra vez a gestão ditatorial da Ricardo Teixeira.
Teixeira deixa a cena mas as investigações sobre corrupção continuam. Claro que devemos respeitar a doença dele, no entanto, temos de cobrar as autoridades que não deixem ''prá lá'' as acusações contra o ex-todo-poderoso chefão do futebol brasileiro.